O anúncio da futura união entre as companhias aéreas Gol e a Azul mexeu com o mercado brasileiro de aviação. Caso o memorando assinado na metade de janeiro realmente leve à fusão das empresas, juntas elas vão concentrar 60% do mercado brasileiro de aviação civil. O acordo não vinculante representa a fase inicial de um processo de negociação entre a Abra, controladora da Gol e da Avianca, e a Azul para avaliar a viabilidade da transação.
O avanço do acordo depende da concretização do plano de reorganização da Gol nos EUA. A transação também pode ser complexa do ponto de vista regulatório. Ambas as empresas já operam sob um acordo de cooperação para ampliar destinos aos passageiros. Azul e Gol apostam na complementaridade de suas malhas. Enquanto a Gol atualmente foca em grandes cidades, a Azul abrange uma malha mais ampla.
Em nota, a Azul destacou que as rotas das duas empresas são em sua maioria complementares. O plano, para a Azul, elevaria o Brasil no cenário global em um setor altamente competitivo. O presidente da Azul, John Rodgerson, afirmou que exemplos de mercados com empresas dominantes, como Latam, Lufthansa e IAG, mostram a importância de uma companhia forte que pode crescer.
O memorando de entendimentos sinaliza o interesse em continuar as negociações sobre a troca de ações, dando início ao processo de aprovações regulatórias, incluindo do Cade. Se aprovado, a Abra poderá vender até 25% de suas ações, desde que não para concorrentes. O acordo estabelece uma “poison pill” para a aquisição de 15% da empresa combinada. As companhias aéreas têm enfrentado dificuldades financeiras, especialmente após a pandemia. A Gol se reorganiza nos Estados Unidos desde o início de 2024, enquanto a Azul fecha acordos para eliminar obrigações e atrair capital.
Santiago Yus, diretor-presidente da Aena Brasil, empresa espanhola que administra 17 terminais aeroviários no país, alertou que a possível fusão entre Azul e Gol pode intensificar a concentração do setor aéreo brasileiro e trazer impactos negativos, como o aumento do preço das passagens. Para ele, a eventual redução de concorrência pode comprometer rotas operadas em cidades menores, onde a viabilidade financeira já é um desafio. Atualmente, a Azul detém 37% do mercado, seguida da Gol, com 26,1%, e da Latam, com 30,5%.